28.11.11

fantasmas


Com a esperança de rever meu juízo crítico sobre Paul Auster, autor não pouco celebrado, li “Ghosts” (1986), o segundo romance/novela da sua Trilogia de Nova York. Ao fechar o livro, meu juízo perliminar sobre o autor tornara-se, infelizmente, uma convição: “Ghosts” consegue ser inferior a “City of Glass”, o primeiro livro da trilogia.
Em “Ghosts”, Auster reincide no jogo puramente abstrato da metaficção, sem maior capacidade de envolver o leitor para além do elemento (precariamente) lúdico de um enigma sobre existência/identidade/trama. A exemplo do que ocorre em “City of Glass”, um detetive/observador perde-se em sua própria obsessão pelo objeto observado (ou pela observação em si) e parece sair das escalas normais de tempo, espaço e comportamento sem convencer-nos da necessidade ou da graça de fazê-lo. Dessa vez, Blue é contratado por White para observar Black, e se deixa levar pela observação do nada, da rotina imutável e entediante de Black. Ao final saberemos que foi Black quem o contratou para que pudesse ser observado, para que pudesse constatar que ele estava vivo.
Como já disse o crítico James Wood, em belo apanhado sobre a obra de Auster, para que o jogo metaliterário praticado pelo autor funcione, para que haja graça e surpresa com o efeito de suspensão e de reflexão sobre a própria narrativa que ele propõe, o leitor precisa estar convencido da história que tem diante de si. E é isto que Auster não nos proporciona. Não nos envolve ou impressiona com a história que conta, a ponto de ser dispensável e anticlimático o truque narativo que, lá pelas tantas, ele nos aplica em seus livros.
Auster peca também por um estilo ruim – o texto descuidado, com clichês (“writing is a solitary business”/”escrever é um negócio solitário”), com imagens e metáforas fáceis (“a knowledge as sudden and irrevocable as the slamming of a door”/“um conhecimento tão súbito e irrevogável quanto o bater de uma porta”...) –, pela inserção de um eruditismo gratuito, didático – Thoreau, Whitman, Hawthorne – e pelo esgarçamento ocasional da verossimilhança, infelizmente sem arrebentá-la de vez, o que seria mais intrigante como proposta. Personagens aparecem como abstrações ou alegorias, a começar por seus nomes. Da mesma maneira que o jogo da narrativa dentro da narrativa e da troca de identidades não têm, em Auster, a mesma sutileza e precisão que em Borges, os personagens alegóricos de Auster não têm a pungência e a força dos personagens alegóricos de um Kafka ou de um Pynchon. Tramas (mal) subvertidas e personagens (mal) alegorizados não costumam combinar-se bem.
Auster vale pela legibilidade, pelo charme de alguns enigmas, pelo esforço do dénouement gracioso, mas não muito mais do que disso.

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