2.8.11

diário de um louco

Lu Xun (1881-1936) foi um dos maiores escritores chineses do século XX. Sua inteligência e aguda compreensão da realidade, sua projeção como intelectual íntegro e engajado, sua habilidade no conto e no ensaio são algumas das características que o notabilizaram. Nos anos vinte e trinta, período extremamente conturbado da história da China, Lu Xun foi uma referência de integridade, um dos homens mais admirados e respeitados pelo povo chinês.
Foi com alguma curiosidade que li seu “Diary of a Madman” (“Diário de um louco”), um conto de 1918, traduzido por William A. Lyell. Curiosidade por toda a riqueza de ressonâncias e referências que o título evoca: “Diary of a Madman” é também um belo conto/novela de Gogol, um filme com Vincent Price e um disco de Ozzy Osbourne, se é possível associar gêneros e artistas tão distintos numa mesma frase.
À semelhança do texto de Gogol, o conto de Lu Xun é a narrativa em primeira pessoa, na forma de diário, de um homem que vai revelando aos poucos seu desequilíbrio. Ele crê progressivamente que as pessoas que o cercam são canibais, prontos a executar o plano de matá-lo e degustá-lo. Há algo de Edgar Allan Poe na construção que revela aos poucos, com certo grau de morbidez, o desequilíbrio mental onde parecia haver lucidez e indignação, mas sem o brilho ou ao menos o frescor de Poe e Gogol, que escreveram quase um século antes. O melhor do conto são alguns passagens com frases curtas e cortantes, interpostas no meio da narrativa, que ao mesmo tempo quebram e dão um sentido de urgência a história: “Pitch black out. Can’t tell if it’s day or night. The Zhao family’s dog has started barking again. Savage as a lion, timid as a rabbit, crafty as a fox…” ("Breu lá fora. Não dá para dizer se é dia ou noite. O cachorro da família Zhao começou a latir de novo. Selvagem como um leão, tímido como um coelho, astuto como uma raposa..."). Ou quando o protagonista é encarcerado pelo próprio irmão, “The sun doesn’t come out. The door doesn’t open. It’s two meals a day.” (O sol não aparece. A porta não abre. São duas refeições por dia.")
São pequenas peças de lucidez e concisão, que não chegam a fazer do conto uma história memorável, mas dão uma graça à agonia mental do protagonista.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário