2.5.11

ruínas circulares

Muito bonito e imaginativo é o conto “Ruínas circulares”, de Borges. Aqui não há referência a livros ou autores imaginários. Tão-somente uma bela idéia desenvolvida em forma de história: a possibilidade de que alguém crie, por meio do sonho, um personagem que se torne real. O protagonista, um aldeão que navega rio abaixo e vive a dormir sob o abrigo das ruínas de um templo, sofre a obsessão: “Quería soñar un hombre; quería soñarlo con integridad minuciosa e imponerlo a la realidad”. Eis aqui o sonho último do artista, em particular da literatura.
Borges conta as conquistas e desilusões do personagem sonhador, que alterna fases de sono permanente e crises de insônia, abstinências de sonhos e sonhos induzidos, sempre desta que é a matéria mais imponderável: “el empeño de modelar la materia incoherente y vertiginosa de que se componen los sueños es el más arduo que puede acometer un varón.” O protagonista faz por fim um pacto com o deus fogo do templo em que se abriga, e consegue criar e fazer viver sua criatura, seu filho. Este deve abandoná-lo, deixando-lhe apenas o receio de que o filho viesse a saber que não passava de produto da imaginação. O final do conto é tipicamente borgiano, circular, infinito, como o título já sugere: “Con alivio, con humiliación, con terror, comprendió que el también era una aparencia, que otro estaba soñandolo.”  

Nenhum comentário:

Postar um comentário