7.6.11

a consciência de Zeno

“A Consciência de Zeno”, de Italo Svevo, não deixa de causar estranheza. É o relato, ao psicanalista, feito por um homem angustiado com suas manias – dores inexplicáveis, fumo compulsivo, obsessão por mulheres. Zeno Cosini, o protagonista, num exercício de auto-revelação, confessional, discorre sobre o percurso de suas fraquezas, e o resultado é o retrato de uma vida desinteressante, a história de um anti-personagem literário, mais marcada pela mediocridade e por uma discreta vilania do que por gestos generosos ou trágicos.
Zeno divide seu relato em cinco partes, as grandes questões da sua vida: o fumo, a morte do pai, o casamento, a amante, a associação comercial. No capítulo “Fumar”, revela a inconformidade com seu vício e a incapacidade de superá-lo, como se o grande vício fosse a compulsão de tentar abandoná-lo, sempre sem sucesso. A obsessão com datas inaugurais, com metas de refazer-se, dá a medida do personagem mediano que nos acompanhará o livro todo. “A morte de meu pai” é o capitulo mais tocante, pela relação de amor e ódio entre os dois, e pela agonia final do pai. Como diz Zeno, “eu compunha versos à sua memória, mas compor versos não é chorar”. O trauma da morte é resumido na frase exemplar do protagonista: “eu me lembro de tudo, mas não compreendo nada.”
Em “História do meu casamento”, Zeno relata a paixão por Ada, a rivalidade com Guido, as propostas frustradas de casamento a Ada e à irmã Alberta, e ainda a proposta bem sucedida à terceira e menos interessante das três irmãs, Augusta, sua mulher de vida inteira. O caso com Carla é contado em “A esposa e a amante”, em que Zeno revela todos os seus pequenos ardis e fraquezas na relação com as duas. Finalmente, em “História de uma associação comercial”, Zeno fala da relação profissional com Guido, seu concunhado e sócio, cujas aventuras financeiras levam a um desfecho trágico que nem Zeno, solidário e já sem o rancor pelo casamento de Ada com Guido, consegue evitar. O relato final ao psicanalista, em que Zeno critica o método, especialmente a ênfase no Complexo de Édipo, pouco acrescenta à construção de uma personalidade esmiuçada em suas facetas mais mesquinhas e baixas.
O mérito do livro é transformar o demasiadamente humano em literário, embora nem sempre a pobreza de espírito, para o bem ou para o mal, encante. Talvez seja isso que Joyce e tantos outros tenham admirado no livro de Svevo.

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