Não há como se mover no Blue Note. Se tivessem anunciado que Miles e Coltrane ressuscitaram e voltariam a tocar juntos esta noite, não caberia uma alma a mais.
O caminho até o palco é longo e estreito. Dave Brubeck está atrás do garoto do bar, com as duas mãos apoiadas em seus ombros, e seguem devagar, como duas crianças perfiladas na entrada do jardim de infância. “Jazz goes to kindergarten” seria um bom nome para um disco novo. O rapaz é um andador competente, gentil em seu silêncio.
Ele sobe ao palco com a ajuda de Bobby Militello, o saxofonista, que tem fôlego e massa suficientes para erguer o quarteto inteiro.
Senta-se ao piano em câmera lenta.
É a terceira e última noite, antes da partida para Chicago, onde tocará com os filhos, no dia dos pais. Sente-se bem, os dedos sempre melhores do que as costas.
Não há como não fazer um agrado a Randy Jones. Randy sempre fica triste quando ele fala de Joe Morello nas entrevistas. Não é de mentir, e Randy sabe. Os jornalistas adoram perguntar sobre o “quarteto clássico”, sobre Paul, sobre Joe. Ele sempre diz que o quarteto atual é clássico em dobro, está junto há mais tempo do que o “quarteto clássico”. Mas como não elogiar Joe Morello quando perguntam sobre ele?
Com a voz rouca, quase um fiapo, anuncia “Take Five” para encerrar. Quando Randy começa seu solo de bateria, ele se levanta do piano e assiste de pé, no meio da música, ao solo do amigo. Aos 90 anos, não é fácil erguer-se sozinho, mas ele sabe que Randy ficará feliz ao vê-lo assim, de pé, em homenagem a ele.
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