1.5.11

à medida que uma mulher envelhece


O que encanta em J. M. Coetzee é o estilo seco, contido e profundo ao mesmo tempo. Sua sobriedade e economia fazem-no certeiro no que interessa: revelar o íntimo de um personagem, quase sempre em queda ou a caminho de um encontro consigo mesmo. É assim no brilhante romance “Disgrace”.
Não é muito diferente no conto “As a Woman Grows Older”. Elizabeth Costello é uma escritora australiana septuagenária que vai a Nice para encontrar a filha, que lá vive, e o filho, que mora nos EUA e está a caminho de uma conferência. Teme o conluio, ainda que seja um doce conluio para tê-la mais próxima. Não a convencerão, naturalmente, mas irão ouvir suas idéias sobre a morte, sobre o ocaso do cérebro, a história que está escrevendo. Até jogarão cartas juntos, e ela se surpreenderá com a facilidade com que ainda vence a ambos, com seu espírito visceralmente competitivo. Como em “Disgrace”, a relação entre um pai e um filho sempre parece excessivamente madura e fria, tardia e resignada.      
Coetzee é um pouco menos lacônico neste conto; dá mais liberdade aos pensamentos de um personagem que é ao mesmo tempo mulher e ficcionista. Há, no entanto, a desilusão e o senso de medida que estão em tudo o que escreve.

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