2.5.11

eu, claudius

“I, Claudius”, de Robert Graves, é já um romance histórico clássico, embora deixe a impressão de que o escritor, com sua inteligência e fino humor, é maior do que a obra. O romance poderia ser ainda melhor se não se concentrasse tanto nas intrigas políticas de sucessão e governo da Roma Imperial e revelasse mais do personagem-narrador anunciado no título, que no fundo é mero espectador do período tratado.
Pouco se fala, de fato, do gago aleijado e manco, de origem imperial, que, apesar de, ou em razão de todas as limitações, tornou-se imperador. Claudius narra o seu entorno, seus parentes que intrigam, arquitetam golpes, envenenam uns aos outros. Fala de Augusto, Tibério, Calígula e, sobretudo, de Lívia, a matriarca por trás dos três impérios, que a todos controla e domina. Quando é a vez de Claudius, alçado ao poder mais por seus defeitos aparentes do que por suas virtudes ocultas, o narrador encerra o livro, e devemos nos voltar para a seqüência, “Claudius, the God”.
Não deixa de ser anti-climático. Embora as intrigas de poder sejam ricamente narradas, com a imaginação e o humor com que Graves trata fatos históricos já de si admiráveis, o mehor do livro são as passagens menos freqüentes sobre o protagonista: a zombaria dos familiares, o aprendizado com os tutores e historiadores, as trapalhadas nos rituais públicos, o amor pelo irmão Germanicus e pelo primo Posthumus, o casamento cômico com a monstruosa Urgulanilla, o temor, temperado por ódio e admiração, diante da avó Lívia, a convivência com Calígula. O livro seria melhor se nos desse mais de Claudius e menos da política e das batalhas da Roma Imperial, o que diz muito das limitações dos romances históricos.
Mas Graves escreve magnificamente, com erudição, ironia, imaginação. Não descreve; não lembro de um cômodo, indumentária ou rosto. Pouco usa os diálogos, sempre admiráveis. O que faz é narrar, e com uma riqueza de eventos e situações que magnetiza a atenção. Graves é um grande contador de histórias, e é exatamente isto que o livro reflete: trata-se de uma bela colagem de histórias romanas, quase todas da vida política, do período que vai de 40 A.C. a 40 D.C. A agonia de Germanicus ou a insânia de Calígula, por exemplo, comovem pela narrativa encantadora de Graves.

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