5.5.11

canção da tocha

“Torch Song” ("Canção da tocha" ou "canção de amor") é outro conto sublime de Cheever. É a história de duas almas de Ohio perdidas, cada uma a seu canto, com contatos bissextos, na solidão e na inconstância da Nova York dos anos trinta, quarenta e cinqüenta. Cheever não narra a vida dos dois. Dá-nos fragmentos de ambas por meio de flashes, por meio dos encontros, quase sempre ocasionais, que unem os dois amigos distantes, Jack Lorey e Joan Harris. Temos a visão de duas linhas paralelas, que cortam a mesma cidade, sofrem a mesma instabilidade emocional e se encontram de quando em quando, como se fosse necessário contabilizar perdas, atualizar decepções. Jack parece colecionar divórcios, e Joan, atrair e agüentar estoicamente, com um sorriso, parceiros exploradores e sórdidos. A impressão do começo é de que se unirão ao final, mas, ao longo do tempo, em lugar de comover-se com a conterrânea que sofre nas mãos dos homens, Jack, desempregado, pobre e doente, rejeita violentamente a ajuda e a companhia de Joan, que, numa espécie de revelação, lhe parece um anjo da morte. É um final que mais surpreende do que agrada, mas o conto como um todo e a maneira sutil, sofisticada, às vezes brilhante, como Cheever nos fala desses personagens e desse mundo novaiorquino de desilusão, dão um enorme prazer ao leitor.
A descrição do comportamento de um dos parceiros infelizes de Joan, o bêbado Hugh Bascomb (cujo sobrenome é, aliás, o mesmo de um escritor em outro conto de Cheever, “The World of Apples”), durante uma festa na casa de Joan, é simplismente antológica. Cheever ainda arremata com um comentário sobre a resignação dela: “Her voice remained soft, and her manner, unlike that of those Christian women who in the face of disaster can summon new and formidable sources of composure, seemed genuinely simple.”

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