30.4.11

o Grande Gatsby


“The Great Gatsby”, de Scott Fitzgerald, é um belo livro, menos pela história, quase banal e folhetinesca, do que pela estrutura da narrativa e pelo estilo do autor. A trajetória de Gatsby, contada de forma linear, cronológica, soaria como um dramalhão, mas Fitzgerald a revela de modo tão envolvente e misterioso, que o personagem e, por extensão, o livro, ganham em dignidade e solidez.
Nick Carraway, midwesterner que, como Gatsby, migrou para a Costa Leste, apresenta-nos o protagonista em primeira pessoa. O vizinho enigmático, da mansão e das festas concorridas, aparece-nos aos poucos, do meio de informações contraditórias, fofocas, sugestões. Uma coincidência – o fato de que Carraway, além de vizinho de Gatsby, é primo da mulher que ele ama – permite o contato entre os dois e, mais tarde, a amizade. Gatsby revelará, então, seu passado pobre, a paixão por Daisy, a passagem pela guerra, o enriquecimento ilícito e os planos de reconquista da mulher que ama.
Seu destino será trágico. A paixão antiga por Daisy, antes frustrada pela diferença social, não será redimida pela fortuna, em razão do destino trágico dos personagens – o atropelamento da amante do marido de Daisy – e da rigidez das divisões de classe. Gatsby tornou-se milionário, mas, da mesma maneira que sua paixão do passado não pode ser esquecida, tampouco sua antiga condição social o será. A Sociedade em Fitzgerald é perversa, sacrifica os sonhos, a hipocrisia e a obsessão com a imagem social impedem o livre curso dos sentimentos. Este é um dos temas dominantes da literatura anglo-saxã do começo do século, como em D. H. Lawrence ou Henry James.
O mérito do autor é contar-nos essa história sem clichês ou pieguice. Fitzgerald usa um estilo circular, com detalhes de Gatsby que aparecem em tempos distintos, com graus de credibilidade também distintos. A moderação e o distanciamento de Carraway nos contaminam.
Há passagens marcantes. O primeiro capítulo, por exemplo, começa um tanto frio e desfocado, para terminar com a bela e enigmática aparição de Gatsby. A região de Ashheaps, com seus habitantes cinzentos e melancólicos, observados pelos olhos gigantes do “outdoor” do oculista, as festas de Gatsby e seu amor doentio são apresentados de forma sutil, nunca inteiramente direta, sempre com riqueza de símbolos e imagens. É um erro associar Fitzgerald a um estilo direto, jornalístico, hemingwayano; ele é um escritor circular, comentador, moralista no sentido amplo do termo.

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