29.4.11

coração das trevas

"Heart of Darkness", de Joseph Conrad, é incômodo pela ambigüidade. O que é, afinal, o “coração das trevas”? O mal, o mistério, a nossa essência sombria e oculta, a morte? Quem é Kurz? Uma espécie de deus, de diabo, de homem que viu a verdade, um iluminado, ou um homem comum, mas ardiloso, que se torna deus/rei de uma tribo de selvagens?
Talvez Conrad não quisesse responder essas perguntas. Faz parte da escuridão de que nos fala. O “heart of darkness” é também indizível.
A viagem rio acima é extraordinária. Para o narrador-comandante, Marlow, não é a busca de marfim, de prestígio ou de uma mera aventura pela África, ainda que este desejo o motivasse de início. É a busca de um sentido, da identidade de um homem que ele não conhece mas sabe que é singular. Ao cabo, embora seja quem o conhece melhor, nem Marlow compreende Kurtz e o sentido de sua liderança entre os nativos. A descoberta de sua aldeia com cabeças humanas espetadas em paus de cerca, com seus ruídos primais, com a relação anti-natural entre os brancos, com a expectativa de tragédia iminente, mais nos confunde do que ilumina.
O texto é complexo, como o objeto que descreve. Conrad usa as descrições da floresta sobrehumana para criar uma atmosfera sobrenatural, misteriosa, que esconde uma essência subterrânea e inatingível. Os personagens também são insondáveis. “Heart of Darkness” é um título perfeito para o livro.

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