1.5.11

o jardim dos caminhos que se bifurcam


Em “El jardín de senderos que se bifurcan”, de Borges, há dois núcleos independentes, dois temas, uma história e uma idéia, arbitrariamente conectados, que dividem nossa atenção. É a história da fuga, na Inglaterra, de um espião chinês que serve ao Governo alemão durante a Primeira Guerra e que, para transmitir a seus chefes o segredo da localização de uma nova base militar inglesa, irá assassinar um homem com o mesmo nome da cidade onde será instalada, Albert. Já a idéia imaginada por Borges é a de um “jardim de caminhos que bifurcam”, projeto e obsessão do falecido avô do espião chinês, que alguns pensam ser um labirinto gigantesco escondido nas montanhas, mas que na verdade é um romance na forma de labirinto, onde as partes se intercomunicam e subvertem a ordem normal do tempo e da narrativa. É uma espécie de livro-vertigem, que ninguém havia compreendido e que dá voltas sobre si mesmo, sem fim, idéia tão borgiana – infinita, absurda -- quanto a Biblioteca de Babel. “Creía en infinitas series de tiempos, en una red creciente y vertiginosa de tiempos divergentes, convergentes y paralelos.” A unir história e idéia há o sinólogo Stephen Albert, que revela ao protagonista o segredo do labirinto do seu avô e será, com sua morte, o mensageiro involuntário do segredo militar.
O conto seduz pela curiosidade que nos causam tanto a história do espião quanto a idéia do romance circular, mas não deixa de soar arbitrária a sobreposição de uma coisa e outra, como se Borges quisesse aproveitar num mesmo conto duas idéias intrigantes mas dissociadas.

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